Tive o prazer de conversar dessa vez com um dos ícones porto alegrenses, e hoje residente em Brasília, Zé do Bêlo. Se liga no nosso papo:
Defeito Crônico - Zé do Bêlo é uma personagem ou tem uma pessoa diferente por trás dessa marra? [risos]
Zé do Bêlo - Sim é performance, mas no inicio ninguem percebia, achavam que era um cara, um novo talento que tava surgindo das mazelas da pobreza, eu fazia show na rua, mentia que vinha da favela etc, eu mandava releases mentirosos pra impresna, fiz toda uma armação pra cima da midia na epoca, em 1996, acho que sou bom nesse negocio de marketing.
DC - Tu tens uma imagem bastante relacionada com o jovem porto alegrense. De onde tu buscou influências para encontrar esse estilo malandro sambista do Bomfim?
Zé do Bêlo - Minha juventude desde 18 anos foi no BomFim então lá era meu chão, por isso existe essa influencia, mas BomFim/Porto Alegre não tem samba, lá era rock e punk-rock, eu não sei dizer de onde eu tirei o samba na minha cerreira pois eu era musico de rock na epoca, mas é como se fosse uma coisa espiritual, comecei a aprender as harmonias do Cartola, e fui me identificando, quando vi tava compondo sambas que eu nao tinha como encaixar nas bandas que eu trabalhava, entao criei o personagem pra divulgar esse trabalho. Quando mostrei pro empresario ele disse que parecia Nelson Cavaquinho, mas na epoca eu nao conhecia ainda o Nelson, hoje sou fã do trabalho dele. Mas nos show do Zé do Bêlo nunca teve publico de samba, era galera de rock alternativo que curtia minhas musicas, que não era so samba afinal, tinha muitas baladas falso-liricas, o pessoal das universidades curtia as letras. Mas tinha muita gente que saia indignada, não conseguia entender nada do que eu tava fazendo, e o que eu fazia nada mais era do que hoje se tornou uma febre no Brasil, que é o Stand Up, tem um cara que me disse há pouco tempo: "velho, tu fazia stand up nos anos 90, quando isso só existia nos EUA...". Lembro que quando apareceu o filme O Mundo de Andy, lá por 2002, algumas pessoas me disseram que o personagem era muito parecido com o que eu fazia, em termos gerais, o formato.
DC - E quanto ao humor característico dos teus discos, aconteceu naturalmente? Como flui suas composições (melodias, letras)?
Zé do Bêlo - Minhas composições muitas delas, as mais bem-sucedidas, foram em parceria com os poetas lá de Curitiba, de quando morei lá, de 1992 a 1995, tinha o Marcos Prado, o Maicol Edison e o Cobaia, um pessoal ligado à arte de vanguarda lá nos anos 90, da turma do Retamoso e da agencia OS. Quando voltei pra Porto Alegre comecei a compor em parceria com o saxofonista-compositor King Jim. Naturalmente eu gosto de humor. Aos poucos foram aparecendo outros parceiros de composições. As melodias e harmonias são todas minhas, e algumas letras também. A coisa flui natural, não sei dizer como que é, eu simplesmente vou cantando a letra e já vou arranjando no violão, dependendo da temática eu puxo pro samba ou pra bossa, ou ainda pra uma balada lenta e bem melódica.
DC - Depois de tanto tempo nessa cena underground o que você acredita que melhorou e o que piorou para os artistas?
Zé do Bêlo - O underground é só o que existia pra mim, e eu me criei nesse meio. Mesmo quando me tornei meio pop, quando meu programa na rádio Ipanema fez sucesso, em 2005, e depois quando fiz comerciais na TV pra Ambev/cerveja Polar, em 2006, ainda assim era um pop underground, até porque meu trampo é muito fora do padrão, não é música puramente. Desde o tempo que comecei muita coisa mudou, pois as bandas independentes ficaram grandes, assinaram contratos de lançamento nacional, etc... mas isso não aconteceu comigo, porque gravadoras grandes trabalham com segmentação, e não conseguiriam me vender nem pro publico de samba nem pro público de rock, então eu tomei meu rumo e continuei com minhas coisas no esquema independente.
DC - Quais são os seus projetos atualmente e alguma coisa já encaminhada para o futuro? Algum novo disco?
Zé do Bêlo - O que eu faço e sempre fiz é uma mistura de linguagens, música, performance teatral, comédia, mas acima de tudo é comunicação. Eu, banquinho, o violão, minhas músicas, as letras rebuscadas, a empatia, enfim, faço o melhor que posso. Tô planejando espetáculo em parceria com o conterrâneo Tiago Conte, ator talentoso, humorista, compositor, ele criou o personagem Xexéu do Xaréu, um bêbado dengoso, é engraçado, toca pandeiro e caixinha de fósforo. A gente tá armando uma comédia musical, uma coisa estilo teatro-bar, mas também pra fazer em teatro e auditório. Já trabalhamos antes em outros projetos e sempre foi massa a interação dos personagens, inclusive o Xexéu participava do meu programa de rádio, aos sábados na Ipanema FM. Tenho gravado músicas pra prensar um novo CD também, mas isso eu to fazendo sem pressa, com capricho e naquele esquema independente, sem grana, 0800. Mantenho há 4 anos um site onde ensino a tocar violão por vídeo-aulas, pra quem não sabe é uma mão na roda, clique aqui pra começar a aprender já, é grátis!!
#NP - Zé do Bêlo - A Filha do Sorveteiro