Você cresceu se alimentando de cultura pop, iogurte de
morango, Trakinas e Yakult a vida inteira. Quando digo cultura pop, é tudo:
filmes, desenhos, seriados, quadrinhos, música, vídeo games, literatura.
Algumas coisas mais, outras menos. Mas tudo era consumido e digerido. E quando
digo a vida toda, é a vida toda. É VHS dos Goonies aos 3 anos de idade.
Você vira adulto e querem te colocar um rótulo: nerd. Gente
que foi apresentada ao “mundo nerd” através de The Big Bang Theory.
Bazingueiros que acha que um filme voltado ao “público nerd” já é, por
definição, muito bom no seu todo. E o fato de você ter um senso crítico um
pouco mais desenvolvido que a maioria (senso crítico esse formado pelos anos e
anos de consumo de cultura pop, cultura nerd, se preferir...) e estar cansado
das porcarias que estão te fazendo engolir hoje em dia, mesmo elas sendo
vendidas como inovações e tudo o que você estava esperando, no quesito de
produtos voltados a um nicho, o seu nicho (nicho esse que nem é mais nicho...),
te faz não ser um nerd. Te faz ser um chato de galochas. Te faz ser um velho.
Pra que tudo isso? Bom, pra começar, se fosse usar o
critério que essa gurizadinha hoje em dia usa, Círculo de Fogo (Pacific Rim. EUA , 2013) seria pra
pessoas com, pelo menos 25 anos, que assistiram muito Esquadrão Relâmpago
Changeman, Jaspion e demais super-heróis japoneses na Manchete, Power Rangers e
reprises de Godzilla no Cinema em Casa. Esse filme é pra gente. Mas não. Não
sou assim. E por Círculo de Fogo ser tão divertido é que desejo que todos
assistam. Mas, sinto informar, se você é mais novo não vai se divertir tanto
quanto quem teve a infância regada a esses programas e filmes que citei.
Diferente do que eu esperava, baseado no único trailer e
algumas notícias que li a respeito do filme, achei que Círculo de Fogo teria
uma carga dramática forte, baseada na neuroconexão que os pilotos dos Jaegers
(nome que os robôs gigantes recebem no universo do filme) fazem entre si,
compartilhando memórias, sensações e sentimentos para poderem pilotar os robôs.
Mas fui tolo em esperar algo assim e o que deveria ser decepção vendo que isso
não ía acontecer, ao longo do filme se transforma em alegria e excitação ao ver
um robô gigante usando, literalmente, um navio cargueiro de porrete pra dar
porrada num alienígena não menos selvagem e descomunal. Drama? Pra que drama?
Pra que roteiros bem amarrados, cheios de plot twists, personagens profundos e
cheios de conflitos? Está tudo ali: a trilha-sonora homenageando filmes de
monstros dos anos 50/60, os personagens mega estereotipados, a jornada do herói
sendo criada, desenvolvida e finalizada em 3 cenas que juntas, não duram mais
do que 10 minutos. Tudo isso, toda essa cara de filme pra se assistir sentado
no sofá, tomando guaraná e comendo salgadinho, fazem de Círculo de Fogo mais um
daqueles filmes homenagens, que nos remetem a tempos onde a maior escolha da
nossa vida era: ou perder o final de A Bolha Assassina, no SBT ou perder o
começo dos Goonies, na Globo.
Ah! Cena pós-créditos, se liguem...
Círculo de Fogo diverte. Muito. Em Imax 3D então... Mas...
as cópias 2D convencionais causariam a mesma impressão? Se você quer algo mais
do que efeitos e visual num filme, pode ser que não. Vai ser legal assistir em
casa? Até vai, mas em toda a alta definição que o Full HD proporciona. O filme
não é um divisor de águas no quesito visual, como foi Avatar. Mas ele pode ter
criado um novo padrão de qualidade no que diz respeito a máquinas e monstros
gigantes no cinema. Repito, um filme feito única e exclusivamente pra divertir
bastante.
(fonte: Macalé)
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