Cinquenta Tons de Cinza - Não precisa de nenhum grau de clarividência para adivinhar
que uma trilogia de apelo jovem que fala de sadomasoquismo e bate recordes de
venda, no mínimo, levantaria sobrancelhas em semblantes mais conservadores. De
fato, Cinquenta Tons de Cinza, da escritora britânica E L James, está dando o
que falar. Os livros contam a história de um relacionamento de
submissão/domínio entre uma estudante e um bilionário. Grupos de diversos
lugares já se manifestaram contra a obra, e uma entidade de auxílio às mulheres
que ajuda vítimas de violência doméstica anunciou uma queima de exemplares da
obra no dia 5 de novembro.
As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain – O livro
saiu no Canadá, Reino Unido e Estados Unidos em 1885. Desde então, os
norte-americanos encrencam com ele. Foi banido de muitas bibliotecas, recebendo
críticas a respeito de como a linguagem era chula, obscena e, em geral, muito
deselegante. Fosse hoje em dia, essa crítica viraria meme. Seu “livro-irmão” As
Aventuras de Tom Sawyer passou pelos mesmos apuros.
Lolita, de Vladimir Nabokov – Sexo? Sim. Incesto? Sim. Menor
de idade com apelo sexual? Sim. O autor russo caprichou nos conteúdos
socialmente proibidos em seu livro mais conhecido. Tanto que ele nem estava
conseguindo publicar a obra na Rússia. Encontrou uma editora na França que
topou o desafio, em 1955. A obra foi logo considerada pornografia pura. Ainda
assim, se espalhou pela Europa e alcançou os Estados Unidos três anos depois.
Em cada país que chegava, sofria algum tipo de censura.
Por favor Não Matem a Cotovia, de Harper Lee – Publicado em
1960, foi inicialmente contestado em 1977 (e temporariamente banido) por causa
do uso das palavras “maldito” e “mulher puta”. Depois disso, foram mais dezenas
de contestações de bibliotecas e escolas, tanto por causa de expressões
específicas, quanto por causa do conteúdo. Retratando um acontecimento marcante
em uma cidade sulista na década de 30, o livro de fato traz um retrato doloroso
do racismo e muitas das expressões usadas não são nada politicamente corretas.
Mas fazem parte do retrato que a autora pinta de uma sociedade terrivelmente
imbuída de preconceito.
Ratos e Homens, de John Steinbeck – O clássico de 1937,
escrito pelo autor vencedor do Nobel John Steinbeck, conta a história trágica
de George Milton e Lennie Small, dois homens simples e deslocados que migram de
um lugar para o outro atrás de trabalho na área rural. A história se passa na
Califórnia durante a Grande Depressão. A obra faz parte da lista de leituras
obrigatórias de muitas escolas, mas desde aquela época é alvo frequente de
censores, que repudiam a vulgaridade e a linguagem racial ofensiva do texto. A
acusação principal é de que o livro promove a eutanásia (sem detalhes para não
fazer spoiler). Foram 54 objeções ao título desde que ele foi publicado.
O Apanhador no Campo de Centeio, de JD Salinger – Poucos
livros trazem histórias tão curiosas em seus bastidores como esse, cujo autor
se tornou notoriamente recluso posteriormente (e até o fim da vida), que nunca
pôde virar filme e foi acusado até de ter tido influência no assassinato de
John Lennon. Retratando a angústia juvenil de forma única, foi publicado em
1951 e sofreu críticas logo de cara. Entre 1961 e 1982, foi o livro mais
censurado em escolas e bibliotecas em todos os Estados Unidos. Em 1960, uma
professora foi demitida por dar o livro como leitura de classe, gerando comoção
– ela foi recontratada, posteriormente. Em 1981, foi tanto o livro mais
censurado, quanto o segundo título sobre o qual mais se deu aulas nas escolas
públicas norte-americanas. Ele figura constatemente na lista anual da American
Library Association até hoje. Os protestos dizem respeito, na maior parte, à
linguagem vulgar usada pelo protagonista, Holden Caufield, referências sexuais,
palavrões e o questionamento de códigos morais e valores familiares, bem como o
“encorajamento da rebeldia” e o incentivo ao mundo de bebidas, cigarro,
promiscuidade etc. A perseguição chegou a causar o efeito contrário – havia
listas de espera para pegar o livro emprestado, em alguns momentos da história.
Catch-22, de Joseph Heller – O romance satírico se passa no
final da Segunda Guerra Mundial. Ele começou a escrevê-lo em 1953, mas a obra
só foi publicada oito anos depois. A expressão “Catch-22” entrou para a cultura
pop, posteriormente, como sinônimo de uma “situação problemática para qual a
única solução é negada pelas circunstâncias inerentes ao problema ou por alguma
regra”. Mal traduzindo e simplificando, é um belo de um beco sem saída. A
primeira grande razão para ele ter sido banido foi o uso constante da palavra
“puta” para se referir às mulheres.
Versos Satânicos, de Salman Rushdie – A obra literária do
escritor britânico de origem indiana Salman Rushdie saiu em 1988, retrata uma
versão dele do Islã e faz críticas veladas a várias religiões. O autor foi
acusado de “abusar da liberdade de expressão”, foi jurado de morte em fevereiro
de 1989 em uma fatwa (edito religioso) do aiatolá Khomeini, dirigente
espiritual do Irã. Rushdie acabou vivendo dez anos na clandestinidade.
Crepúsculo, de Stephenie Meyer – Se os bruxinhos teen caíram
nas garras da proibição, que chances tinham as criaturas mortas e chupadoras de
sangue de escaparem ilesas? Os “problemas” com a saga, de acordo com a ALA,
giram em torno dos mesmos tópicos de sempre: “explícito sexualmente” e
“inapropriado para a idade do público alvo”. Os livros aparecem na lista da ALA
desde que o primeiro volume chegou ao mercado mas, curiosamente, nenhuma das
obras da saga está no ranking mais recente, de 2011.
Um comentário:
Até concordo os motivos de algumas proibições...
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